Efeitos do álcool no organismo.
Por: Viviane Varjão.
O álcool (etanol) foi consumido pelo homem desde os tempos primitivos, devido à facilidade de sua obtenção a partir da fermentação de frutas.
É a droga psicotrópica mais usada em todo o mundo. Nos Estados Unidos, estima-se a existência de cerca de 13 milhões de pessoas consideradas " alcoólatras". Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), drogas psicotrópicas são "aquelas que agem no sistema nervoso central (SNC), produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora, sendo portanto, passíveis de auto-administração", ou seja, uso não sancionado pela medicina e que pode levar à dependência.
O termo "alcoolismo" define um transtorno caracterizado pelo consumo crônico e excessivo de álcool.
Alguns pesquisadores dividem o alcoolismo em diferentes padrões de ingestão. O alcoolismo gama refere-se a pessoas que são incapazes de parar de beber, uma vez que comecem, mesmo sendo capazes de manter uma abstinência em variados períodos de tempo.
Um outro tipo de alcoolismo, porém muito dificilmente identificado, é quando o indivíduo necessita ingerir certa quantidade diária de álcool, mas não tem consciência de uma falta de controle. Neste caso, o alcoolismo geralmente não é descoberto até que a pessoa precise parar de beber.
Os efeitos do álcool ocorrem principalmente no sistema nervoso central (SNC). Tais efeitos são dose-dependentes. Quanto maior a dose, mais deletérios são estes efeitos. Afeta diversos neurotransmissores cerebrais, como o ácido gama-aminobutírico (GABA), o glutamato, serotonina, endorfinas (por isso a sensação de bem-estar).
São sintomas clássicos da intoxicação alcoólica a visão borrada, dificuldades em andar ou desequilíbrio, fala arrastada, tempo de resposta a estímulos retardado e danos à memória
A intoxicação alccólica possui diferentes estágios:
Concentração de álcool no sangue (CAS)
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Estágio
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Sintomas clínicos
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0.01 - 0.05
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subclínico
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Comportamento normal
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0.03 - 0.12
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Euforia
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Euforia leve, sociabilidade, indivíduo torna-se mais falante
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0.09 - 0.25
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Excitação
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Instabilidade e prejuízo do julgamento e da crítica |
0.18 - 0.30
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Confusão
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Desorientação, confusão mental e adormecimento |
0.25 - 0.40
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Estupor
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Inércia generalizada
Diminuição importante da resposta aos estímulos I |
0.35 - 0.50
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Coma
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Inconsciência |
0.45 +
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Morte |
Morte por bloqueio respiratório central |
A hepatotoxicidade do álcool está intimamente relacionada com o metabolismo do etanol, que se processa principalmente no fígado. O álcool é a principal causa de cirrose nos países ocidentais.
O bom funcionamento hepático é fundamental à vida. Este é um órgão muito complexo, de variadas funções, sendo uma delas a degradação de substâncias tóxicas absorvidas no intestino ou produzidas em outras áreas do corpo e, excretá-las pela bile ou pelo sangue como subprodutos inofensivos.
Além disso, a bile secretada pelo fígado é responsável por ajudar na digestão e absorção de gorduras, armazenamento de vitaminas, síntese de proteínas e colesterol, e metabolização e armazenamento de açúcares. Controla também a viscosidade sanguínea e regula os mecanismos de coagulação.
Como o fígado é um órgão de capacidade regenerativa, os sintomas relacionados a uma lesão hepática provocada pelo álcool demoram a ser evidentes, até que esta lesão torne-se intensa.
O álcool ingerido é metabolizado no fígado pela enzima álcool desidrogenase (ADH), que converte-o em acetaldeído, que mesmo em pequenas concentrações, é tóxico para o organismo. A enzima aldeído desidrogenase (ALDH) então converte o acetaldeído em acetato e este, em sua maior parte, atinge outras partes do organismo através da corrente sanguínea, onde participa de outros ciclos metabólicos.
Existe ainda um sistema alternativo de metabolização do etanol no fígado, que é o sistema de enzimas microssomais oxidativas (SEMO), pertencentes à família dos citocromos. O SEMO transforma o etanol em acetaldeído pela ação do citocromo P450 2 e 1 ou CYP 2 e 1 presentes nos hepatócitos.
As principais doenças hepáticas acometidas pelo uso crônico e indiscriminado de álcool são:
- esteatose hepática ou fígado gorduroso - é uma deposição de gordura sob o fígado que ocorre em quase todos os indivúduos que fazem uso abusivo ou frequente do álcool. É o primeiro estágio da doença hepática alcoólica. Esta também ocorre em indivíduos diabéticos, obesos, desnutridos severamente e usuários de determinados medicamentos.
- hepatite alcoólica - é uma inflamação e/ou destruição (necrose) do tecido hepático. Apresenta sintomas como perda de apetite, náuseas, vômitos, dores abdominais, febre e em alguns casos, confusão mental.
- cirrose alcoólica - é a forma avançada de doença hepática decorrente de um dano progressivo das células hepáticas. O fígado cirrótico apresenta um fibrose extensa que compromete o funcionamento deste órgão, podendo prejudicar também o funcionamento de outros órgãos como cérebro e rins. Embora seja uma doença fatal devido suas complicações (falaha renal e hipertensão portal), ela pode ser estabilizada pela abstinência completa o álcool.
Vale lembrar que não importa se a bebida é fermentada ou destilada. A quantidade de álcool presente no organismo depende da quantidade de doses que o indivíduo ingere.
Referências Bibliográficas:
CARLINI, E. A. et al. Drogas psicotrópicas: o que são e como agem. Revista IMESC, n. 3, p. 9-35, 2001.
Disponível em : https://www.cisa.org.br/categoria.html?FhIdTexto=88012d349b0e45d162280a421e03e260&ret=&. Data de indexação: 18/01/2012
MINCIS, P. D. M.; MINCIS, P. D. R. Doença hepática alcoólica: diagnóstico e tratamento. Prática hospitalar, n. 48, p. 313-318, 2006.
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